Maria Carol Medeiros

Por que nos importamos tanto com a beleza?

Estamos no verão no Brasil. Por onde quer que eu olhe, vejo mulheres se preocupando com seus corpos, que nesta estação do ano ficam menos cobertos. Observo os homens ao meu redor – ao que parece, nenhum deles, dos mais sarados aos mais barrigudos, hesita em usar sunga. Ter seu corpo visto não é uma questão, não demanda “preparação” nem causa insegurança.

Já as mulheres comentam entre si sobre seus próprios corpos, se justificam sobre terem engordado e comentam sobre os procedimentos que fizeram ou ficaram tentadas a fazer para “combater” celulite etc.

Sempre comento aqui sobre como tudo é construído – porque é, e tenho inúmeros posts onde busco resumir essa história a partir de mulheres brilhantes como Simone de Beauvoir, Michelle Perrot e a prof brasileira Denise Bernuzzi de Sant’Anna.

Mas este post não é para dizer que uma mulher consciente “se sente bem com seu corpo do jeito que ele é”. Não gosto do discurso que divide mulheres entre “as que sabem”, as que estariam “imunes” aos discursos capitalistas de venda de produtos e serviços de embelezamento, e as “iludidas”, as que se renderiam a eles porque seriam mal informadas ou coisa assim. Não se culpabiliza a mulher por fazer um procedimento estético e se preocupar com celulite numa sociedade em que somos incitadas a isso o tempo todo.

Este post é pra dizer que eu entendo seu desconforto, que também é meu. Somos lembradas o tempo todo de que há sempre algo a “melhorar”,“tratar”,“combater”, corrigir”. Estes são verbos muito utilizados nos anúncios.

Também é pra dizer: não se conforme com o desconforto. Insisto que a gente se lembre de onde ele vem, se lembre que é construído com objetivos muito claros para que possamos, pela via do conhecimento, olhar para ele e ter ferramentas para questionar: quem se beneficia do meu desconforto?